Entrevista geológica

Futuros geólogos e geólogos, mais uma entrevista pra vocês. hahaha
Bem esse geólogo entrevistado, acho que a maioria conhece, seus mini cursos e palestra (sobre Deltas) na ultima semana de geologia, mini curso no simpósio.. estava também la na festa de formatura da primeira turma de geologia dançando o "direita esquerda paranranpampam" (aha, eu vi kkk). E ai alguém já sabe?

Vamos lá então..


-Formado por qual universidade: UnB
- Nome completo: Fernando Jorge Pedrosa Maia Junior (usualmente apenas Fernando Maia Jr.)
-Natural de: Recife
-Mora atualmente em: Aracaju
-Idade (opcional): 29
- Trabalha atualmente: Petrobras
- mestre, doutor ou nenhum dos dois? - nenhum (pós lato sensu apenas).

Pois é, a entrevista da vez foi com o Fernando Maia Jr, recifense visse, apesar de não ter o sotaque, enfim neh, vou deixar de enrolação e vamos a entrevista..


1- Por que escolheu geologia?

Desde pequeno, meu pai costumava me dar presentes da linha mais "nerd": álbuns de figurinhas de cunho científico, revistinhas de dinossauros, um globo terrestre, kits de cientista mirim. Tudo isso com certeza me despertou para as ciências.  Além disso, por volta dos dez anos, descobri uma velha enciclopédia em minha casa que, no final, continha um catálogo de minerais. Eu tinha mania de colecionar coisas e decidi começar uma coleção de... pedras. Já morando em Brasília, periodicamente ia com a família a Alto Paraíso de Goiás, onde meus pais tinham alguns amigos, um deles dono de fazenda, a qual era rotineiramente invadida por garimpeiros ilegais, que à noite cavavam buracos no solo em busca de cristais de quartzo. Eu sempre ia atrás destes "buracos" para aumentar minha coleção; e também comprava nos mercadinhos da cidade. De repente, a coleção já não cabia em algumas caixas de sapato e, novamente com a ajuda do meu pai, comecei a organizá-la em alguns estojos específicos. Nesta época, meu pai me presenteou com um guia de minerais que explicava tudo sobre mineralogia, rochas e até mesmo sobre como ir a campo (com martelo e caderneta!). Depois de tudo isso, não foi tão difícil escolher geologia na hora do vestibular. (Meu pai aprovou no ato!)

2- Ja pensou alguma vez em desistir do curso na graduação? Caso sim, por quê?

Tive, sim, algumas fases "baixo astral", mas, no geral, sem dúvida predominou o sentimento de continuar até o fim, e não lembro de ter considerado, de fato, desistir do curso. Mas teve um momento em que fiquei decepcionado com certas disciplinas (tanto da matemática, quanto da geologia) e outro em que pensei fortemente em trabalhar (o que me levaria, no mínimo, a desacelerar o curso). Tive sorte de ter familiares e amigos que insistiram para ter paciência. 

3- Como escolheu a área de trabalho ao se formar? Decidiu isso logo?

Não. A geologia é muito rica, não podemos nos limitar tão fortemente, especialmente no começo, quando ainda há muito a aprender. Mas tinha minhas tendências: estrutural, tectônica, sedimento e hidro predominaram bastante nesta fase.

4- O que você faz no seu emprego atual?

Tornei-me especialista em Petrofísica, área ainda pouco difundida no Brasil.

5- Como você ver o mercado de trabalho, hoje, pra área a qual você trabalha?

O petrofísico é bastante procurado no mercado. Como o Brasil não forma petrofísicos, as companhias interessadas devem treinar profissionais ou contratar estrangeiros. Os salários são atrativos.

6- O que você esperava como estudante(ideais profissionais e etc), foi concretizado ao se formar e entrar no mundo profissional? Você está satisfeito com sua vida profissional dentro da geologia?

Com toda certeza. Encontrei uma área das geociências que me satisfaz imensamente, uma área em que devo aplicar meus conhecimentos de sedimentologia e mineralogia, de geofísica e de matemática; e fico realizado ao ver amigos atuando com a mesma satisfação em outras áreas tão diversas e ao mesmo tempo tão próximas. Tudo isso me completa, pois um geólogo não pode fazer tudo ao mesmo tempo. Ao trabalhar como geólogo, vejo-me responsável por parte do entendimento sobre a natureza de nosso país, nossos recursos minerais e energéticos, essenciais para as ações geopolíticas que garantem a evolução econômica do Brasil e, junto, alavancam também projetos nas demais áreas: educação, cultura, esportes etc. - sempre com o dever de manter a ética e o respeito ao meio ambiente, garantindo que esta evolução seja sustentável e digna. Todo este privilégio e inclusive este dever engrandecem nossa profissão - tudo isso com certeza me faz um profissional satisfeito.

7-  Quais experiências(profissionais, fora a atual) você já passou como geólogo? Qual você achou mais importante? Por que?

Ingressei na Petrobras no ano seguinte à minha graduação, sendo esta companhia minha primeira e única empregadora de fato. Na Petrobras, a experiência mais marcante até o momento foi a participação no consórcio com a Universidade do Texas, onde tive a chance de estudar petrofísica avançada com os melhores professores da área. Estas atividades nos EUA trouxeram-me uma experiência enorme e a confiança de atuar em projetos bastante importantes. A outra experiência é a do constante trânsito entre setores bem diferentes de nossa sociedade: em um dia, estamos almoçando com trabalhadores do campo, ouvindo suas histórias, vivenciando seus ambientes; no outro, estamos em reuniões com gerentes e executivos, experienciando uma certa formalidade, definindo importantes estratégias. É um tipo de experiência que poucos profissionais podem viver.

8- O que te leva a pensar na frase que "a geologia é foda pra caralho." ? (um fato, um local, etc..)

Existe algo mais "foda" do que sentir-se à vontade para discutir o planeta Terra, sua história de bilhões de anos, sua evolução, as diversas fases da vida em nosso planeta, seus detalhes mais belos (como são os minerais), suas paisagens mais marcantes? Existe: ir a estas paisagens para discutir tudo isso!

9- Caso queira deixar um recadinho pra a geologada que ta ai se lascando pra se formar, pra aqueles que não sabem se é isso que querem da vida..kkk, pra aqueles também que já sabem que gostam, mas tão sem gás.. fique a vontade.. :)

À calourada querida, aos veteranos de primeira mão, uma primeira dica: apaixonem-se. Já ouvi dizerem que geólogo não precisa de "hobby". Mas só não precisa se tiver paixão pelo que faz. E isso, na verdade, é com qualquer profissão. Nossa sorte é que a nossa profissão está associada a uma certa grandeza, seja a da natureza, seja a grandeza econômica, que deixa tudo muito empolgante. Como segunda dica: saibam trabalhar em equipe. O geólogo é um profissional que depende de sua equipe. Diferente da medicina, em médicos podem escolher diferentes áreas independentes entre si, a maioria das áreas da geologia estão inerentemente unidas: desde os levantamentos geofísicos ao estudo dos fósseis, esta longa cadeia de geólogos, unida, é que chegará a alguma conclusão. Por isso, trabalhar com a mente, com o martelo e com muita amizade é o que garante nosso sucesso - e nossa diversão! Por fim, aos que estiverem com dúvidas sobre a geologia, considerem o quão rica é nossa ciência e em quantos campos diferentes vocês podem atuar. Desde os terrenos arqueanos aos solos do recente, desde o universo aos isótopos que nos permitem as datações mais antigas, desde o funcionamento íntimo da natureza até o planejamento de cidades, tudo é possível para um geólogo - mesmo ações culturais, fotografia, jornalismo, podem ganhar bastante se contarem com um geólogo. Então questionem-se: vale a pena desistir? Para estes e para os que estiverem impacientes, peço aguentar um pouquinho: após cinco (ou um tantinho mais) anos de ralação, as recompensas são verdadeiras. Persistam, porque mesmo nós, geólogos, não podemos prever o futuro.


Agradecimento: Mais uma vez obrigada Fernando por conceder a entrevista.